O Sacramento do Matrimônio, dentre os sete basilares sacramentos da Fé Cristã, é o que faz parte do grupo de sacramentos chamados Sacramentos do Serviço (cf. CIC 1534-1535). Serviço de quem e para quem? Pergunta fundamental. Serviço de Cristo à sua Igreja e à humanidade. De que forma? Compondo-se família nuclear – União, no Amor divino entre esposo (homem) e esposa (mulher) e nesta união abertura a gerar e educar prole (filhos), sejam biológicos ou não.
a) A Serviço de Cristo
Desde o princípio, na criação, as Sagradas Escrituras nos revelam que, ao criar o homem e a mulher, tendo feito-os um para o outro, Deus os criou à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1 e 2). De modo que a união marital, naturalmente, já expressa uma proximidade entre o modo que Deus ama e o modo como o ser humano ama: no amor da aliança perene, fértil e progressiva entre homem e mulher, Deus, de certo modo, revela como é o seu Amor pelo seu Povo.
Na História da Salvação, desde os tempos do Antigo Testamento, encontraremos diversos momentos em que o amor entre esposo e esposa é metáfora do Amor entre Deus e seu Povo (cf. Is 55,5; Ct 4; 5). Ao mesmo tempo em que é na base familiar que Deus revela suas promessas: constituir uma família, um povo, uma nação, um reino… (cf. Os 2; Is 62; Sl 44).
No entanto, Jesus ensina-nos que, por causa da infidelidade ao projeto de Deus, o modelo de união original fora deturpado, entre outros motivos, por diversos modos poligâmicos e patriarcais de se constituir família (cf. Mt 19,18; Mc 10,5). Com a vinda de Jesus, o Cristo, Deus encarnado na humanidade, foi reestabelecida a dignidade desta união, como no princípio, assim o próprio Jesus vai tratar desta questão claramente (cf. Mt 19,18; Mc 10,5).
Jesus não se casou, porém, sua aliança de amor não só reestabeleceu a verdade original da união esponsal, como a sacramentou. Vale a pena se debruçar no episódio das Bodas de Caná e perceber que, nas entrelinhas, Ele se faz o misterioso noivo que oferece o melhor vinho. Mostrando, pela metáfora da aliança matrimonial, o sentido do “ser esposo” seu amor, sua fidelidade e seu serviço à Eterna e nova Aliança que gerará os novos Filhos de Deus para o mundo (cf. Jo 2).
O fato de Deus Pai escolher uma família para realizar o maior e definitivo gesto da sua revelação, que foi o envio do seu Filho ao mundo põe no centro da revelação o sentido e a missão serviçal da família, como aquela que constitui a nova humanidade, seja no exercício da comunhão fiel e indissolúvel, seja na participação da criação e da educação dos filhos. Assim, José e Maria se tornam ícones primazes da sacramentalização do Matrimônio na acolhida do próprio Filho de Deus em sua relação esponsal (cf. Lc 1-2; Mt 1-3). Em suma, com Jesus, por sua vida, paixão, morte e ressurreição, o Matrimônio não só recupera o status da sacralidade natural da união esponsal, mas também ganha o caráter da sacramentalidade, agora, sobrenatural. É plenamente assistido, dedicado e acompanhado com Cristo, por Cristo e em Cristo.
b) A Serviço da Igreja
Há três vocações que estão ligadas ao Serviço da Igreja e da humanidade, em nome do Senhor Jesus Cristo. Duas delas são propriamente sacramentais porque, segundo o desígnio de Cristo, requerem uma graça especial. Outra é no caráter de uma opção mais radical de viver os conselhos evangélicos. As duas primeiras são: o Matrimônio e a Ordem, a terceira é a Vida consagrada (cf. CIC 1603-1620).
Casar-se é servir à Igreja de Cristo, formando com seu cônjuge uma Igreja doméstica: ser família. O que compõe este projeto de vida em Cristo são duas coisas fundamentais: Amar como Cristo ama a Igreja – Entregando sua própria vida àquela ou aquele pelo qual sente-se atraído e, unidos a Cristo, constituir com esta pessoa uma aliança de amor. Aliança que se constitui com o testemunho do compromisso público à sua comunidade e à sociedade.
Unidos profundamente a Cristo, membros de sua Igreja, o jovem casal assume a missão de constituir uma nova célula ativa, eficaz, frutuosa da Igreja do Senhor constituindo um lar e um projeto de vida a dois. “Sereis uma só carne, crescei e multiplicai-vos, sendo fiel um ao outro, na saúde, na doença, na pobreza, na riqueza, na tristeza, na alegria, amando e respeitando mutuamente todos os dias da vida, até que a morte os separe” (cf. Ritual do Matrimônio, fórmula do consentimento).
Assim o(a) vocacionado(a) à vida matrimonial assume a vida de Cristo em sua vida. Quem celebra o Sacramento do Matrimônio, se casa, por causa de Cristo, da sua missão e ao se “casar na Igreja” assume o Matrimônio da Igreja. Ou seja, quem se casa não faz simplesmente um ato social na Igreja, mas sim, assume a missão da Igreja renunciando outros modos de vida a dois que não correspondam ao modelo original. Por isso, sacramento do serviço. Os noivos se tornam um só para serem inteiros à serviço da missão da Igreja: Anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, no testemunho diário de fidelidade, amor, comunhão e participação na obra da criação e seu aprimoramento, na formação de uma sociedade justa e fraterna (cf. CIC 1638-1658).
c) A Serviço ao Mundo
O casal, por assumir este serviço sacramental de Amor na união entre si e na participação de gerar novas vidas e educá-las, é presença da Igreja onde a Igreja (institucionalmente) não alcança. No mundo do trabalho, associações, grupos de famílias, escolas, universidades… Nos diversos espaços sociais, os casais, as famílias testemunham Jesus Cristo vivo, presente e atuante no mundo pelos gestos de: hombridade, honestidade, fidelidade, respeito, companheirismo, dedicação, entrega, amor e serviço mútuo (cf. CDSI 213-214).
O Matrimônio na sua sacralidade, vivido com plena consciência, por assim dizer, torna-se o grande fermento de novas relações sociais mais fraternas, amorosas, humanizadas, pois onde há um casal de esposos que lutam por crescer na santificação há a construção de um mundo de paz, esperança, reconciliação, tolerância e solidariedade, um mundo verdadeiramente Cristão.